Em nossa vida cristã, temos um grande desafio: viver
unidos a Deus. Temos a sensação de que não dá tempo para fazer tudo o que
devemos fazer e isso preocupa. Sentimos que falta aquela alegria e comunhão dos
momentos de oração. Temos muito trabalho para fazer. Então, pensando em São
João Paulo II, um santo dos nossos tempos, o que me aconselharia?
Com certeza, ele nos falaria sobre a
“Espiritualidade do Trabalho” (Laboris Exercens 24-27). A Igreja tem uma
proposta para promover a espiritualidade até mesmo nas tarefas laborais, onde
também podemos aproximar-nos de Deus. Muitas vezes percebemos o contrário;
parece que nos afastamos. Mas este movimento também pode ir na outra
direção, que leva para a comunhão com Deus. "- O senhor
trabalhou?" "- Claro!" Ele diria: “Olha, eu também tive que
trabalhar por quatro anos, durante a ocupação nazista na Polônia, quando
fecharam as Universidades e obrigaram todos a trabalhar. Trabalhei em um
restaurante, fui operário em uma Mina de Calcário e em uma Indústria Química.
Sei como é.”
Para viver esta espiritualidade, é preciso perceber
que: “O homem, criado à imagem de Deus, participa mediante o seu trabalho na
obra do Criador e, num certo sentido, continua, na medida das suas
possibilidades, a desenvolvê-la e a completá-la, progredindo cada vez mais na
descoberta dos recursos e dos valores contidos em tudo aquilo que foi criado”
(LE 25). Simplificando, é uma vocação humana desenvolver, trabalhar, completar
a Criação.
Não 'desligamos' Deus quando vamos
trabalhar. Pelo contrário, devemos testemunhar a importância daquilo que
fazemos todos os dias, pois é uma vocação que Deus nos permitiu exercer no
mundo para evangelizar e continuar a Obra da Criação.
Ser honesto, trabalhador, humilde, preocupado com
os demais, vivendo a caridade de um verdadeiro Cristão será uma mensagem de
esperança para um mundo onde a ética perde constantemente para a corrupção e o
mal. Por isso
podemos dizer que alguns trabalhos não estão de acordo com a Fé e a Moral, podendo
ser recusados licitamente pelo cristão, como por exemplo participar na
realização de um aborto.
Vale a pena lembrar um dos documentos do Concílio
Vaticano II, no qual SJPII mais influenciou com o seu pensamento,
a Gaudium et Spes: “Não se oponham, pois, infundadamente, as atividades
profissionais e sociais por um lado e a vida religiosa por outro. O cristão que
descuida os seus deveres temporais falta aos seus deveres para com o próximo e
até para com o próprio Deus, e põe em risco a sua salvação eterna. A exemplo de
Cristo, que exerceu um mister de operário, alegrem-se antes os cristãos por
poderem exercer todas as atividades terrenas, unidos numa síntese vital todos
os seus esforços humanos, domésticos, científicos ou técnicos com os valores
religiosos, sob cuja elevada ordenação, tudo se coordena para a Glória de
Deus.”
Podemos dizer, enfim, que: onde muitas pessoas
não encontram sentido, nós encontramos Deus, que nos pede para servir aos
demais com toda a nossa vida, vivendo a caridade e cooperando com o próprio
Deus, que conta com os nossos esforços e trabalho para chegar a todos.
Que nossa vida tenha esta unidade, esta síntese
vital onde tudo está integrado e unido a Deus e à sua Igreja Una, Santa,
Católica e Apostólica Romana.
Fonte: A12 - Por Fábio Santos Araújo


